A IMPORTÂNCIA DAS ESCADAS PRESSURIZADAS
m qualquer edificação, a segurança dos ocupantes em situações de emergência é primordial, especialmente em caso de incêndio. Para garantir a proteção de vidas, é fundamental que as construções estejam em conformidade com uma série de normas de segurança. Isso inclui a demarcação clara de rotas de fuga, a instalação de sinalização adequada e a disponibilização de equipamentos de combate a incêndio.
Um elemento crucial nesse sistema de segurança são as escadas de segurança. Para que cumpram sua função efetivamente, elas precisam ter um sistema de ventilação que impeça o acúmulo de fumaça. A fumaça não só dificulta a visibilidade durante a evacuação, mas também representa um grave risco à saúde devido à inalação de gases tóxicos. Em certas situações, para otimizar essa proteção, essas escadas devem ser pressurizadas.
Mas o que exatamente é uma escada pressurizada? Como ela funciona? Quais são seus componentes e quando sua utilização é indispensável? Este artigo explora em detalhes esse sistema vital e sua contribuição para a segurança das pessoas.
Ao contrário das escadas à prova de fumaça que dependem da ventilação natural para dispersar a fumaça, a escada pressurizada opera com um mecanismo de insuflamento mecânico de ar. Essencialmente, um sistema força a entrada de ar limpo na caixa da escada. Esse fluxo de ar cria um diferencial de pressão entre a escada e os demais ambientes do edifício.
O objetivo principal desse diferencial de pressão é impedir a entrada de fumaça na área da escada, mantendo-a livre e segura para a evacuação. O ar é insuflado por moto-ventiladores centrífugos, equipamentos que devem ser alojados em uma sala dedicada e isolada para garantir seu funcionamento eficaz e seguro.
Para compreender plenamente o funcionamento de uma escada pressurizada, é essencial conhecer seus elementos constituintes:
Moto-ventilador (Insuflador): O coração do sistema, responsável por impulsionar o ar para a escada de segurança. Utilizando o princípio centrífugo, ele acelera o ar e o direciona, gerando a pressão necessária. Tipicamente, esses ventiladores são dimensionados para manter uma pressão de 50 Pa na escada. As opções incluem os rotores Sirocco (mais econômicos) ou Limit Load (mais eficientes e recomendados para operação contínua).
Duto de Captação: Essa estrutura, que pode ser de alvenaria ou metal, é encarregada de coletar o ar fresco do ambiente externo e conduzi-lo até a sala de pressurização. É vital que garanta um fluxo de ar adequado para a câmara.
Duto de Insuflamento: Ligando o moto-ventilador ao duto vertical da escada, este duto (metálico ou de alvenaria com revestimento interno) transporta o ar pressurizado. Seu isolamento é crucial para prevenir vazamentos e a contaminação do ar.
Duto Vertical: Responsável por levar o ar pressurizado do moto-ventilador até os diferentes níveis da escada. Dutos metálicos oferecem a vantagem de menor atrito e, consequentemente, dimensões mais compactas, liberando espaço nos pavimentos.
Grelhas de Insuflamento: Estrategicamente posicionadas ao longo do duto vertical, essas grelhas reguláveis garantem a distribuição uniforme do ar pressurizado. É imperativo que haja grelhas próximas ao piso de descarga e ao último pavimento a ser pressurizado.
Damper de Sobrepressão: Esses dispositivos atuam como válvulas de segurança, prevenindo o excesso de pressão na escada (que não deve ultrapassar 60 Pa). Se a pressão se eleva demais, eles se abrem, aliviando o excesso e facilitando a abertura das portas corta-fogo.
Filtro de Ar: Essencial para a qualidade do ar insuflado, o filtro (mínimo classe G1, conforme NBR 16101 – 2012) é instalado na captação do ar externo. Ele garante que contaminantes não sejam introduzidos na escada de emergência.
Veneziana de Captação: Localizada no ponto de entrada do ar externo para a sala de pressurização, a veneziana deve ser instalada em locais livres de fontes de poluição (como exaustores de cozinha) para assegurar a pureza do ar.
A casa de máquina é o ambiente onde o moto-ventilador está instalado. Sua construção deve ser resistente ao fogo por 3 horas e possuir uma porta corta-fogo P-90 com vedação hermética. Geralmente situada nos pavimentos mais baixos para facilitar a captação de ar externo, essa sala exige um sistema de filtragem (filtro classe G1) para purificar o ar antes de ser insuflado. Além disso, deve abrigar um quadro elétrico, um botão de desligamento manual do sistema e detectores de fumaça, que, ao identificarem fumaça, desligam o sistema para evitar a contaminação da escada.
As dimensões da sala são determinadas pelo tamanho dos equipamentos, a quantidade de moto-ventiladores (geralmente dois), o quadro elétrico, o botão de desligamento e os detectores de fumaça. É crucial prever espaço para manutenção e garantir o funcionamento adequado dos moto-ventiladores. Edificações mais altas demandam moto-ventiladores maiores, influenciando diretamente o tamanho da sala. Regras práticas, como considerar o diâmetro do rotor para as distâncias mínimas entre o equipamento e as paredes (e entre os próprios moto-ventiladores), auxiliam no dimensionamento. A proximidade a uma fonte de ar externo e um caminho direto ao duto vertical são igualmente importantes para minimizar perdas de carga.
O sistema de pressurização entra em ação quando uma situação de emergência é detectada, seja por um sistema automatizado de detecção de fumaça ou por um acionamento manual via botão na central de alarme. Uma vez ativado, o moto-ventilador começa a insuflar o ar captado do ambiente externo, que é então distribuído para a escada pelas grelhas de insuflamento. O damper de sobrepressão garante que a pressão ideal seja mantida.
Existem duas modalidades de operação:
Estágio Único: O moto-ventilador é acionado apenas em situações de emergência.
Dois Estágios: O sistema opera continuamente com uma pressurização de 15 Pa e aumenta para 50 Pa em caso de emergência. Este modo é frequentemente exigido pelos Corpos de Bombeiros, pois assegura proteção constante e renovação do ar na escada.
A funcionalidade do sistema de pressurização não pode ser comprometida pela falta de energia elétrica. Para isso, um gerador é indispensável, garantindo a operação por, no mínimo, 4 horas. Um quadro de transferência automática gerencia a ativação do gerador em caso de falha no fornecimento da rede pública, e seu desligamento ocorre automaticamente quando a energia é restabelecida, evitando acidentes.
No Brasil, a NBR 14880:2014 – Saídas de emergência em edifícios — Escada de segurança — Controle de fumaça por pressurização é a norma de referência para escadas pressurizadas.
Além dela, as Normas Técnicas do Corpo de Bombeiros de cada estado, específicas para escadas pressurizadas, devem ser rigorosamente seguidas.
A necessidade de escadas pressurizadas é determinada pelas Instruções Normativas dos Corpos de Bombeiros de cada estado, com base na altura da edificação. Essa altura é calculada desde o ponto de saída ao nível de descarga até o piso do último pavimento habitável (excluindo casas de máquinas, caixas d'água, etc.). Cada estado possui suas próprias diretrizes, sendo fundamental consultar a legislação local para garantir a conformidade.